terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Asdra: Parte 3 / Capítulo 1 - A Gestação

Bem, devido ao alto grau de instruções que ela havia recebido de minhas modificações genéticas, foi relativamente tranqüila nossa comunicação. A princípio as percepções dela eram sutis, e assim fomos nos entendendo aos poucos. Depois, a medida com que suas percepções acumulavam informações sobre tudo à sua volta, aumentava sua capacidade de registro e começamos a nos comunicar melhor.
  Seguíamos constantes, através de ondas de pensamentos, nossas trocas de idéias. As dela tímidas, como próprio de seres em desenvolvimento. É como uma semente que começa a germinar e anseia por seus frutos, mas sabe que tudo tem o seu tempo. A planta começa aos poucos, soltando apenas as suas raízes e um pequeno caule o qual surge para atingir e eclodir à luz do sol. Assim como as plantas, a menina crescerá forte, com raízes profundas e flores radiantes e firmes.
   A partir deste momento comecei a explicar-lhe o real motivo de sua vinda:
_ Sempre e em todo tempo existiu o que era Bom. Esta é a real seiva da vida, do caminho e da eternidade. No entanto, para alguns, o Bom não era o suficiente. E desta faísca de pensamentos surgiu o que era contra tudo o que sempre foi. Na verdade, para estes, as coisas só faziam e faz sentido se o que existe pertencesse única e exclusivamente a eles. O comando e o poder não poderiam ser compartilhados e sequer ditados por alguém que não viessem deles. O elo se partiu. No entanto a parte que era maior se uniu, enquanto a outra parte teima em querer se juntar. Esta é a luta de tempos. Seus últimos planos são bem audáceis, e como pensamentos podem ser lidos pelo universo, tivemos conhecimentos de alguns deles. Nosso elo sempre os capta. Antecedendo-se a nós chegou nestas terras um ser o qual deverá causar sérios transtornos ao seu povo. Ele está instruído, capaz das malícias da persuasão e deverá alcançar seus objetivos a qualquer preço para minar, ou talvez acabar com o que é mais precioso: a esperança na vida. Nesta balança, que não poderia tender somente para um lado, enviamos você. Um ser criado para ser justo e puro, e ainda para defendermos o que é Bom. Para proteger o mundo das trevas.
_ Mas como será? – docemente ela me perguntou.
_ Tudo ao seu tempo. Todas as informações necessárias quanto aos segredos do universo serão lhe dadas como já é de costume entre os bebês. O problema é que a maioria acaba esquecendo com o passar do tempo e não se arrisca, ou não quer se lembrar. Crescem e constroem seus mundos e suas muralhas à parte, sem saber que o mundo é um só. Um só no sentido de que todos têm as mesmas possibilidades de vitória, de serem felizes e de conquistarem seus objetivos. O sol nasce todo o dia para todos; espalhando seus raios de luz em todos os cantos do planeta. Existe ar suficiente, terra abundante, água necessária e um tudo de coisas e desejos a serem atendidos. À você foi autorizado um aumento no seu potencial cerebral e sensorial para ajudá-la no desafio que está surgindo. Todo cuidado será pouco, pois em um fio de tempo todos saberão de sua existência assim como já sabemos de seu opositor. E mesmo com toda a proteção envolvida no seu nascimento, tudo o que fizermos será milimetricamente ponderado.
_ Quando e onde ocorrerá o nascimento? – disse ela com um ar de curiosidade, já mostrando parte de sua personalidade.
_ Seu nascimento ocorrerá em meio a uma família de qualidade nobre, de bons costumes e que já se achava completa. Terá um irmão; e pai e mãe já de idade avançada. Seu irmão será um grande aliado, e te ajudará a compreender a vida por ela mesma e lhe felicitará com belos momentos. Você poderá contar com sua lealdade e responsabilidade. Será um grande amigo e estará sempre preocupado com o seu bem estar.
  Outros assuntos foram surgindo e fui lhe explicando tudo à medida do possível. O tempo avançava e já estávamos tendo uma expressiva comunicação.
  Num determinado momento algo aconteceu. Aquele foi o primeiro sinal de que já tínhamos sido descobertos. Foi então que as forças que sustentam a vida tiveram sua superação contra as que queriam destruí-la. Subitamente, o útero pelo qual ela estava instalada começou a ser pressionado, e o líquido que o envolvia começou a tornar-se denso e escuro. Tudo em volta estava tornando-se lento: os pulmões maternos recebiam menos oxigênio e trabalhavam vagarosamente, o coração parecia que iria parar de bombear sangue ao corpo e pequenas bolhas cinzentas e esfumaçadas surgiam ao nosso redor. A princípio poucas, e logo muitas podiam ser notadas por toda parte.O cordão umbilical que liga o feto à mãe começou a se direcionar para a região do pescoço da pequenina, enrolando-se nele e pressionado-o. Cada nódulo parecia estar sendo guiado, e se flexionava incessantemente no sentido de esmagar e sufocar. Este deu uma volta ao redor prendendo toda a circulação dela, deixando suas pálidas feições escurecidas. Seus frágeis braços tentavam retirar o que lhe sufocava, mas até então não conseguia. A boca da pequenina se abria e fechava em um movimento constante, enquanto suas pernas e pés se debatiam no líquido que a envolvia. Tudo isto acontecia em meio a uma nuvem avermelhada na forma de uma grande mão, a qual fazia movimentos como se estivesse esmagando algo. Minha angústia foi enorme, e quando já ia me direcionando para ajudá-la percebi uma alteração vibracional, que para mim era totalmente desconhecida. Uma nova energia, que chegava com a força arrebatadora de uma infinda transformação. Naquele exato momento os olhos da pequenina foram cortados por um raio violeta, ou mesmo poderia dizer uma linha na vertical dos mesmos, para que haja um melhor entendimento. E mesmo sentindo-se mais fraca e frágil do que qualquer ser em suas condições, ela mostrou-me e também ao ser que estava tentando destruí-la o porque havia sido enviada. Seu braço direito foi levantando-se vagarosamente, e com um rápido e certeiro movimento desenroscou o cordão de seu pescoço e recolocou-o de volta no lugar. Depois com um olhar fixo para o líquido que estava à sua volta, conseguiu dispersar as brumas, e com a força de seu pensamento determinou que tudo voltasse ao seu estado natural. As bolhas que se moviam ao nosso redor foram diminuindo de tamanho e estourando uma a uma, e o denso líquido já estava voltando a sua coloração natural. A grande fumaça avermelhada se desfez lentamente, e o formato da grande mão desapareceu. O ritmo do corpo, tanto da mãe quanto da filha, novamente foi retomado.

Gostou? Então comente. O próximo virá em breve.
Beijos

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