sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Asdra: Parte 2 / Capítulo 1 - A Gestação

Faço então o relato desta aventura pela necessidade de contar os fatos de grande importância para a libertação de um povo. O seu povo. Parte de sua existência. Mostrar um caminho para aqueles que se sentem perdidos e desanimados. E então, esse furacão que passou por estas terras e nunca foi descrito em seus livros, nunca foi contado por antepassados, explode agora em sua plena revelação. Existiram relatos que eram guardados em uma grande biblioteca por pessoas que tinham a intenção de divulgá-los no tempo e hora certa. Mas esta foi incendiada a muito tempo atrás. Suas labaredas de fogo atingiram os céus e foram vistas a kilômetros de distância de onde foram acesas. Muitos deste grupo foram queimados juntos, pois faziam constantes vigílias para a proteção dos pergaminhos que continham os escritos desta jornada. Aos que restaram, a opressão e a morte trataram de silenciá-los. Muitos antigos manuscritos que descreviam experimentos científicos, altas tecnologias e grande feitos das épocas antecedentes também desapareceram nesta noite iluminada pelo fogo do desespero. Aqueles foram tempos marcados por muitas vidas humanas perdidas em vão sem nenhum propósito. Ainda existe um documento contendo informações sobre tudo o que será contado, só que este também espera seu tempo. Mas esta é uma outra conversa.
  O começo de tudo se segue na designação para uma missão da qual exigiria máxima atenção. As instruções eram de que seria minuciosa e que eu deveria auxiliar em tudo o que fosse necessário. Esta seria a mais importante que já tivera, e assim aumenta o peso da responsabilidade e do compromisso assumido por mim perante a toda uma situação. O tempo era curto, e os planejamentos finais deveriam ser traçados corretamente. No entanto, nosso inimigo mais feroz se antecipou. As preocupações triplicaram e os momentos de ansiedade culminaram em elementos surpresa.
   Deixando o período de instruções, comecei a me preparar para o início desta missão. Meus objetivos eram claros e definidos. Quando minhas ordens chegaram para que eu pudesse seguir à diante, demorei o equivalente a um piscar de olhos para que eu estivesse exatamente onde deveria estar. Dentro do corpo humano. Para ser mais exato, no útero materno. Então lá estava eu novamente diante do grande dom divino concedido aos mortais: o início da criação. Ali, não há noite nem dia. Neste pequeno e protegido mundo representado pelo útero, sons ritmados se alternam em uma apaziguante e quase imutável seqüência de tons e sons. Uma canção constante e reconfortante. A orquestra mais afinada e ritmada de que se tem notícia. Cheiros e sabores chegam atenuados. E bem em frente a min aquele ser tão pequenino, tão indefeso e tão docemente inofensivo. Ah! Se todos lembrassem de seu tempo uterino. Das maravilhas que podem ser vistas daqui de dentro; sensações e experiências que são perdidas quando o mundo de fora é alcançado. A dança alegre dos glóbulos por entre as veias, ao doce som do bombear do coração. As grandes paredes que compõem os órgãos na verdade parecem grandes muralhas, que protegem os mistérios do corpo humano. Os nervos que se contraem quando são perturbados e os estímulos que são mandados pelo cérebro para a reação e proteção interna. Ainda pode-se escutar os sons externos que acabam por sonorizar toda a parte de dentro. A renovação de ar constante e incessante dos pulmões, e a alegria de todo um corpo que recebe um novo ser. Apesar de já ter visto isso por séculos e séculos, sempre me parece a primeira vez. Isto é um símbolo sagrado que deveria ser respeitado por todos, mas bem se sabe que as coisas não são bem desta forma.
  Saindo do meu estado de contemplação comecei a realizar as minhas funções iniciais. Primeiro verifiquei o estado do útero que, apesar de não estar na sua plenitude, era adequada para aquela gestação. Seriam só alguns ajustes para a fortificação da placenta e uma camada de energia a mais para o cordão umbilical. Após isto era somente conferir coisas que para mim são de rotina, como verificação de altura e peso, e se o tempo de gestação estava correspondendo à todas as expectativas. Isto acontece através dos feixes de luz que emanam da minha parte central amarelada. O feto já estava na vigésima semana, com aproximadamente 25cm e pesando 241 gramas. Ótimos para os nossos padrões de aprovação. Como já tinha sido decidido, comecei a fazer as alterações sensoriais e verifiquei a eficácia de cada uma delas. Testei-as separadamente e depois fiz a união para saber qual seriam os seus limites. Aumentei a potencialização cerebral colocando um ponto a mais na quinta camada da hélice direita, no segundo par genético da cadeia funcional. Verifiquei reações adversas, e somente depois revisei no geral. Tudo foi feito como planejado, só faltando agora uma ligação glandular para que eu pudesse obter a comunicação intra-uterina. Parece impossível acreditar que conversas dentro do corpo humano são realizadas, mas isto acontece com todos antes de vir ao mundo. Incrível o que é esquecido.
   O pequeno feto continuava a sua caminhada. No seguir dos acontecimentos a bela menina abria seus olhos maravilhados, os quais emanavam a luz de uma nova esperança. A surpresa fica pelo fato de termos enviado uma futura heroína. Estão todos sempre acostumados com relatos de heróis e guerreiros masculinos e musculosos, e não de uma pequena garotinha. Enganam-se todos que pensam em mulheres como um sexo frágil e reprimido.

Comente se você gostar! A próxima parte virá em breve.
Abraços
Alessandra

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