quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Asdra: Última parte do Capítulo 1 - A Gestação

Isto aconteceu muito rápido, tanto em relação ao ataque quanto a defesa feita por ela. Isto não é nenhum poder mágico ou coisa assim. Nosso pequeno bebê tem o dom dos sentidos, e pela força deles ela pode perceber e neutralizar os perigos que a rodeiam. E assim ela fez, e tudo que tinha começado terminou da mesma forma: rápida e sorrateira. Este foi um breve momento onde se pode constatar o que ela pode fazer, e até onde pode alcançar. Ela nasceu predestinada a grandes acontecimentos, e tudo isto foi presenciado por mim e os fatos serão conhecidos por todos.
   A maioria das percepções da pequenina são exclusivamente para ajuda própria. Ela capta o perigo, e por vezes conseguiu ajudar a si e aos amigos. Assim lutou bravamente, sempre em função do bem comum. Este episódio aconteceu durante o sétimo mês de gestação dela e foi quase fatal.
   A apresentação dos tons violeta nos olhos da pequenina me surpreendeu. Foi novidade para os meus conhecimentos, e assim abriu-se ainda mais o meu aprendizado. A intensidade no brilho dos olhos havia iluminado toda a parte interna do corpo materno; raios que ultrapassavam as células e ocupavam os espaços existentes entre os órgãos e as veias. Ali estava contida parte da força vital que a conduziria a realizar seus maiores feitos. Os dons da criança são reunidos em seus sentidos como já foi dito, e para o seu opositor aquela eminente derrota perante a fragilidade de um corpo em formação, provavelmente foi algo marcante naquele começo de combate. A guerra começava a ser enfrentada, e a primeira batalha tinha sido favorável a nós. Os sinais vitais que haviam sido enfraquecidos e alterados logo se refizeram e se reforçaram. A percepção sensorial provou ter o dobro do que se era esperado, a qual também foi sentida externamente pela mãe. A adaptação de todos os seus sentidos foi rápida, e superou todas as minhas expectativas iniciais.
  Conversamos longamente sobre o que havia ocorrido, e fomos tomando consciência dos perigos futuros. Após isto, além de mim, dois guardiões foram enviados para que a criança tivesse uma gestação mais tranqüila e um nascimento sem grandes surpresas. Estes seres ficavam ao lado  da mãe, pois são extremamente grandes. Eles empunham  espadas clamejantes num tom sereno e tranqüilo. Não são visíveis aos olhos humanos, apesar de sua aparência ser bem parecidas com os seres deste mundo. Estes celestiais guardam incessantemente o que lhes é confiado. Não comem, não bebem, não sentem sono ou cansaço. Possuem longos e lisos cabelos brancos, que alcançam seus joelhos e que fazem lembrar uma constante queda de água de uma cachoeira em seu estado pleno. Olhos puxados e sem cor, mas que enxergam além do que se pode alcançar. O nariz é proporcional aos grandes lábios de uma boca avermelhada que quase nunca se move. Não possuem sexo, assim como vários de nós seres do infinito. Vestes compridas e alvas cobrem seus corpos até não poder saber nem se possuem pés. Quando olhados de frente parecem estar flutuando pouco acima do chão. Suas contínuas expressões de calma chegam a impressionar os que não acreditam que eles estejam ali para combater caso seja necessário. E ali ficavam eles, um do lado direito e o outro do lado esquerdo, em vigília constante e incessante.
  Após estes acontecimentos comecei as preparações para o dia do nascimento. Com a guarda reforçada tive mais tranqüilidade para as minhas funções. Uma das coisas curiosas dos bebês quando estão no útero materno é quando ele começa a perceber o seu corpo. As mãos, os pés e as demais partes são contemplados com interesse. A pequenina começou a reparar mais em si mesma. Muitas perguntas ela me fez com relação aos seu corpo, e isso já é costumeiro para mim, porque todos sempre são muito curiosos e acabam sabendo mais quando estão neste estágio da vida do que em qualquer outra parte dela. Nestes casos procuro sempre dar a mesma resposta antes de contar-lhes todo o restante: nascem com você, ajudam a viver e morrem com você. Mas na verdade grandes explicações nesta época da vida acabam por atrapalhar o que realmente é necessário.
    O comunicado do nascimento foi recebido por mim finalmente. Um pouco mais cedo do que esperado, a pequenina tinha pouco mais de oito meses, mas o tempo havia se encurtado e tudo deveria ser apressado. Mesmo sabendo que o tempo pertence ao nosso Ser maior como tudo mais existente, sempre me comove como a ação da energia age corretamente, deixando com que o universo siga o seu rumo certo. Anunciei a ela que teria chegado a sua hora:
_ Pequenina, agora você vai alcançar o mundo de fora. Não se preocupe, pois vais ser muito bem amparada. Não vai ter grandes dificuldades e, após o rompimento que farei nesta bolsa de água que te envolve, entrarás numa espécie de túnel e logo nascerá. Encontrarei com você lá fora e sempre poderá me ver, pois não desligarei o nosso elo de ligação. E como última coisa lhe farei um sinal na parte de trás de sua orelha direita para que saibam quem você é e para que possa conseguir o que precisar com mais facilidade. Bem, vamos aos preparativos.
   Pude notar a calma dela e a felicidade por ter chegado a sua hora. E ficava imaginando quantas e quantas coisas nós iríamos passar juntos. Em meio a este tempo ela virou-se para mim e me fez sua última pergunta. Algo que tinha esquecido de dizê-la mas que ela não havia esquecido de me perguntar:
_ Como você já me disse antes em nossas conversas, a tudo foi dado um nome para que não houvesse confusão. Muitos nomes já devem ter sido dados a inúmeras coisas que verei depois de minha chegada ao mundo de fora. Você ainda me disse que eu mesma terei o meu próprio nome, que será escolhido pela minha família.
_ Isto é verdade. Desta forma fica melhor para que nada seja desconhecido ao ser humano. Tudo fica organizado.
_ Muito bem. Mas o que você ainda não me disse foi como deveria chamá-lo. Acho que será muito complicado conversar com você sem que saiba o seu nome. Sei bem que até agora você falou muito e eu o escutei atentamente. E se eu terei um nome pelo qual me chamará você provavelmente também terá que ter o seu.
   Fiquei pensativo por um tempo tentando entender o por que de não ter ainda lhe contado a respeito do meu nome. A tudo foi dado um nome. É parte fundamental das coisas da criação. O nome de algo e de alguém tem nele o poder de guiar o fluxo da energia por toda uma existência. Para a eternidade. Apesar de muitas conversas, em nenhum momento me preocupei com isso. Então lhe disse que tinha sido relapso quanto a isso, e que ela deveria me chamar de número 6, pois eu fui o sexto a ser criado dentre os meus, e assim todos os celestiais me conhecem. Ainda lhe disse que iria explicar mais sobre mim após o nascimento. Ela se conformou e se preparou.  Então fiz o rompimento da bolsa e o líquido começou a escorrer. Lá se foi a pequenina.


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